Washington Reis e Célia Serrano — Foto: Reprodução
O secretário estadual de Transportes e ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), é alvo da Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (4), na 2ª fase da Operação Venire, sobre a suposta fraude nos cartões de vacinação da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Também está na mira da operação Célia Serrano, secretária de Saúde de Caxias.
Os sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de vacinas contra a Covid foram aplicadas em Bolsonaro, que sempre negou ter sido vacinado, no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.
Essa suposta falsificação teria o objetivo de garantir a entrada de Bolsonaro, familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando a regra de vacinação obrigatória. O então presidente deixou o Brasil rumo aos EUA no penúltimo dia de mandato, em dezembro de 2022.
Nesta quinta, são cumpridos mandados de busca e apreensão emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O objetivo é “buscar a identificação de novos beneficiários do esquema fraudulento”.
O Globocop flagrou Washington Reis dentro da mansão onde mora, em Xerém, bairro de Duque de Caxias, enquanto agentes circulavam pelos corredores.
Após a ação, Reis disse que já esperava ser alvo de uma operação da PF e negou que tenha tido envolvimento com irregularidades durante a vacinação na cidade.
“Reviraram a minha casa de cabeça pra baixo, não tenho nada a esconder. Eu vacinei no meio da rua, mostrando meu braço, vacinando todo mundo. Agora, o que eu acho engraçado, só em época de eleição [que acontece as buscas e apreensões sobre o tema]. Estou há 2 anos esperando, não aparece nada, então, é vida que segue”, disse.
Em nota, o Governo do Estado disse que a ação desta quinta “tem como alvo único e exclusivo a obtenção de cartões de vacinação relacionados ao município de Duque de Caxias em 2022”. Ainda de acordo com o comunicado, “não existe nada referente ao Governo do Rio na investigação e nem fatos que comprometam a conduta do secretário Washington Reis”.
A Prefeitura de Duque de Caxias disse que “a operação não teve como alvo nenhum órgão vinculado à municipalidade”. Com relação aos mandados contra o ex-prefeito e a secretária de Saúde, a instituição afirmou “não se manifestará considerando o sigilo que recobre os atos”.
Falsificação da carteira de vacinação
Segundo a PF, os dados da falsa vacina de Bolsonaro contra a Covid foram inseridos no sistema apenas em 21 de dezembro de 2022, pelo então secretário municipal de Governo de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, e removidos 6 dias depois, por Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob alegação de “erro”.
Mas foi justamente nesse 27 de dezembroque um computador cadastrado no Palácio do Planalto acessou o ConecteSUS a fim de gerar os certificados de vacinação para impressão.
Na ocasião, Bolsonaro afirmou que não tomou vacina e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha. “Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso”, disse.
A Operação Venire
A 1ª fase da Operação Venire foi deflagrada pela PF em maio do ano passado. Jair Bolsonaro foi um dos 16 alvos de buscas. Os policiais também prenderam o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid , e outros 5 suspeitos:
- o sargento Luis Marcos dos Reis, que era da equipe de Mauro Cid;
- o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros;
- o policial militar Max Guilherme, que atuou na segurança presidencial;
- o militar do Exército Sérgio Cordeiro, que também atuava na proteção pessoal de Bolsonaro;
- o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha.
O esquema teria adulterado os cartões de vacina:
- do então presidente Jair Bolsonaro;
- da filha mais nova dele, Laura;
- de assessores do então presidente;
- do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), irmão do então prefeito de Duque de Caxias.
A operação ganhou o nome de Venire, segundo a PF, em referência ao princípio “Venire contra factum proprium”, que significa “vir contra seus próprios atos”. A Polícia Federal diz que esse é um princípio base do Direito Civil e do Direito Internacional, que veda comportamentos contraditórios de uma pessoa.